Mais uma vez, Andre Salviano, o escritor das terças boêmias
Primeira Carta
Todas as cartas de amor são
Ridículas.
Não seriam cartas de amor se não fossem
Ridículas.
Álvaro de Campos

Imagem: Blog da Sandra
Hoje acordei pensando em você. Ontem também. Sem esquecer dos outros dias. Desde que partiu tem sido assim. Durmo pensando em você e não satisfeito sonho contigo por toda a noite. Sei que escrever essa carta não será fácil, mas me há-de ser prazeroso, porque a cada letra são imagens suas que brincam em minha mente. A distância só tem uma vantagem, a meu ver, produzir a mais linda saudade.
Outro dia fui a sorveteria, pedi graviola e a tia mandou Cadê a menina do cupuaçu? Na locadora me perguntaram assustado Ué, não vai levar nenhuma comédia romântica? No Café da esquina Apenas um Swiss Moka hoje?
Abro um livro de Vinicius e lá está você a tocar minha pele, nas Canções de Quintana descubro seus sorrisos, nos sonetos de Florbela relembro seus desejos, em Bandeira brincamos de roda e corremos feito crianças. Quando você está longe não leio Clarice, pois prefiro que leia pra mim.
A essa hora o que você deve estar sentindo? Fuso horário, confusos sentimentos, que se misturam e nos impulsiona. Faço papel de bobo só pra você. Rio extenso também deságua no mar. Vontade de amar. Mas não esse amor que sinto agora. Amor de pele, toco o papel querendo te tocar, deslizo os dedos, olho pras letras a preencher o vazio, tão cheio de você, querendo transbordar! Chego a ficar de pau duro imaginando você aqui, do meu lado, em silêncio ofegante, palavra muda que vale por mil sonetos.
Lembra quando brincamos de Sartre e Beauvoir, não poderíamos ir tão longe, mas sempre estamos além, de todas as expectativas que quebramos até aqui. O medo a nos rondar, bicho covarde que ataca no escuro, apesar dos arranhões, não fugimos. Enfrentamos não só ele, tem sempre outros bichos. Vez em quando apagamos um grilo. Ah! Tanta falta você me faz.
Rasguei o calendário terça-feira passada, gostaria que tomasse ciência. Só não abandono o relógio porque preciso labutar, joguei na Mega-sena ontem, mas até o prêmio sair, você sabe né. Ando de mal com Chronos, o filho da puta faz o tempo voar quando estamos juntos e se arrastar quando você vai pra longe. Adorei sua carta e também o nosso acordo de não mais usar e-mail. Românticos? Dois putos. Escrevendo de próprio punho, sem essa de digitar, sentindo-nos, perfumando-nos... Tato, muito tato. Sinestesia total.
Meu pensamento longe. O corpo às vezes reclama. Sempre que anoitece fica mais difícil, o banho, a TV, o cafuné, a cama. E eu tentando me achar só consigo me perder. Você. Muito mais que seu nome. Não consigo esquecer.
Despeço-me olhando no fundo dos seus olhos, foto linda. Não demore a me escrever. E peço encarecidamente que não conte o tempo pra mim. Sejamos mais que ampulhetas, o paradoxo do espaço. Desafiaremos juntos aqueles que insistem em nos separar. Amor meu que alimenta amor seu, cadeia retro-alimentar.
Daquele que te ama além dos clichês, do tempo, espaço, luas, medos e demais,
Beijos na boca e onde mais sua imaginação permitir.
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dá um pitaco ae. e depois eu prometo q te mando ir à merda