Muitos Problemas e Um Segredo
Eu sei, ela tem uma queda por mim
Pelo menos eu acho que sim
Mas eu finjo que nem ligo
Porque ela já tem um namorado legal
Descolado, tranquilo e astral
Que é até meu amigo
Celso
Fonseca

Era uma agradável noite de primavera, eu
de saco cheio do trabalho resolvi sair pra beber, difícil se concentrar
nas linhas de programação que se multiplicavam pela tela com tantos
problemas a me atormentar. Ninguém topou, disseram que estava cedo e bla
bla bla. Quando olhei para o relógio passava um pouquinho das dezenove
horas, uma terça qualquer, de brisa serena a refestelar minha calejada
face, pedi um chope e passei os primeiros minutos inertes a contemplar o
movimento frenético de saída de trabalho no agitado centro do Rio e ao
mesmo tempo de tantos a quererem desvendar segredos, encontrar soluções,
ou simplesmente celebrar a vida nos templos da Cinelândia, neste dia eu
orava no Amarelinho, mas lá tem também o Verdinho e o Vermelhinho,
igrejas coloridas a abrigar fiéis sonhadores, que praticam sua
infidelidade já na promiscuidade daltônico-etílica.
Durante mais de meia-hora eu fui o que se
poderia chamar, sem prejuízo algum do paradoxal significado, de um
Flanêur ¹ Paralítico, até que me enfastiei, pedi a conta e parti pela
Evaristo da Veiga em direção à República do Paraguai, não tinha a
intenção de ser menos solitário, mas de caminhar a esmo por ruas
históricas, gostava de me imaginar Luís Martins e recordar as deliciosas
peripécias que por ali vivera, depois relatadas em seu Noturno da Lapa.
As vias
semi-vazias faziam com que eu me voltasse mais ainda para os meus
problemas, que acredito desnecessário compartilhá-los, não porque eu
goste de segredos, aliás, bom mesmo é poder tomar conta da minha vida, a
curiosidade que habita em mim jamais passaria num vestibular, e ademais
lembro meu Mestre, sempre sábio com o mínimo de palavras, quando diz
que “o pior dos problemas da gente é que ninguém tem nada com isso”.
Mário Quintana é impressionante em sua simplicidade. Decidi tomar mais
uma, dessa vez latinha mesmo, de um dos poucos ambulantes que zanzavam
por ali. Começava a me achar triste. Sem amigos pra compartilhar um bom
papo-furado, piadas, assuntos do futebol. Sem uma companhia pra andar ao
lado, gargalhar e beber junto. Sem perspectiva pra essa noite, e também
pras seguintes.
Acabada
a lata comprei outra e desci a Gomes Freire, na porta do bar – o qual
não direi o nome – estava Ela parada, sorria fagueira com mais três
amigos, passava das vinte e uma horas, eu cocei os olhos, talvez
estivesse embriagado e confundindo-a com outra pessoa, sei lá, e
enquanto eu confirmava se ela era realmente Ela o telefone tocou, um dos
problemas agora me bombardeava com palavras dóceis e meigas, terminamos
o telefonema com carinhosos “vai pra puta que pariu” do lado de lá e um
debochado “agora não dá, estou muito ocupado” do lado de cá. Me
posicionei na calçada oposta e fitei o grupo até nossos olhares se
cruzarem. Senti-a gelar, um desconforto nos gestos e uma estratégica ida
pra dentro do bar, sozinha. Fiquei excitado, com a mente a mil, tudo
girando num ritmo alucinante. O telefone vibrou, sinal de mensagem:
“Precisamos conversar, me encontra agora no 2º piso do bar. Bjs”
Atravessei a rua
com a certeza de que minha vida era feita de muitos problemas. Desliguei
o celular, sorri nervoso balançando afirmativamente a cabeça várias
vezes, a agradável noite primaveril de uma terça qualquer com brisa
serena acabava de me arrumar outro problema, e quiçá um segredo.
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dá um pitaco ae. e depois eu prometo q te mando ir à merda