In Memoriam - Andre Salviano
Que é que eu vou fazer pra te esquecer?
Sempre que já nem me lembro, lembras pra mim
Cada sonho teu me abraça ao acordar
Como um anjo lindo
Mais leve que o ar
Tão doce de olhar
Que nenhum adeus pode apagar...
Nei Lisboa

Imagem: orxeira
O primeiro espirro. Alto, disperso, molhado. Pegou em mim, olhei de cara feia, mas você sorriu e me pediu desculpas, sem demonstrar aquele mal-estar habitual, sequer ficou sem graça.
Por dias fiquei pensando em você e olhando para o meu braço, seco. Não sabia como te encontrar de novo. Você sim.
Tínhamos mais em comum do que eu imaginava. Colega de turma da minha irmã. Estranhamento e felicidade quando cruzou a porta da minha casa. Fez questão de simular outro espirro. Eu sorria, e indisfarçadamente tremi. Assim como agora, ao ver a grama orvalhada.
Não pertencíamos ao tempo hoje, sempre fomos ontem. Todos nos invejavam.
Cortejo. Inocência. Paixão. Namoro. Cumplicidade. Amor. Intimidade.
Nunca esquecemos de conjugar o verbo dialogar. Sorrir. Desculpar. Respeitar.
Sinto muito. Até saudade das nossas brigas.
Quando ela surgiu, tanta festa. Mesmo ainda sem nome. Nossa princesa. E choramos tanto, e entendemos mais ainda que realmente não éramos desse tempo. E eu já nem sei se deveria estar lembrando isso agora, mas é que chove, começou a chover bem fraquinho, chuva fina. Ela foi feita numa noite de chuva forte, de verão. Outro espirro. Alguns segundos olhando para o meu braço, molhado.
Caminho em silêncio. Minha memória não, ela sim é desse tempo, que não me deixa esquecer.
Trouxe as flores que você mais gosta, lírios brancos. Eu te amo... tanto.
Fica bem, preciso voltar ao tempo que não pertenço.