Confraria, para lembrar

[In]Acabado

Imagem: Olhares

Um quadro esquadros recados na porta da geladeira. Meu coração numa bandeja. Primeiro um banquete, depois marmita requentada.
Você indo embora. A porta o batente a tranca as chaves sobre a mesa. A mesa onde eu servia seu jantar.

O altar desmoronando. Você foi e eu fiquei. Vagando divagando difamando seu nome e nossa história.

As chaves sobre a mesa sem toalha. Também estou nua em carne viva.

Não acho meus óculos meus livros nosso álbum de fotografias. Mas te encontro em cada cômodo.

Esbarro nos seus discos seus desenhos a camisa do seu time. A casa diminuiu e eu cresci não caibo aqui dentro. Da casa? Não. De mim.

Durmo de dia padeço a noite não sonho mais. Perdi as vírgulas e as vontades.

Foi melhor assim. Fiquei com a TV o rádio o computador. Devem estar quebrados mudos ocos vazios. São como eu.

O telefone grita e dele saem palavras mornas. O leite derrama no fogão.

Não dói só ecoa. A parede pintada de azul. Escolhemos juntos depois cessaram nossas escolhas.

Jornais acumulados na porta. Notícias envelhecendo nós dois sumindo ficando pra trás. Ficamos.

Parece inacabado. Mas não está.

Flah Queiroz