31 de julho de 2008

Um dia abaixo da média, por Juan Munhoz

Putz! Era risível. Não tinha conseguido fazer nada o dia todo. Nem pensar. Eram umas duas ou três horas e não fazia nada útil. Não conseguia escrever, falar ou andar. Nem ler. Quando me concentrava numa coisa, por cinco minutos que fossem, logo me distraía e era foda se concentrar de novo. Nada do que tentava fazer era produtivo.

Arrumei-me da pior maneira possível e fui à rua comprar umas cervejas e talvez alguns cigarros. Sabia que aquele dia ia ser uma merda.

Ajeitei a coleira no cachorro. Um boxer grande de pêlo castanho e com aquela boca torta e babada. Se bem que todos os cães babam demais. Mas aquele era fenomenal. Aquilo sabia babar, e babava bem, até bem demais. Coleira em punho com alguns trocados. Saí.

Desci a rua com aquele mesmo pensamento. Nada de hoje seria bom. Enquanto observava o cão cagar no meio da rua (mas bem no meio mesmo) pensava em outras coisas que pudessem me remeter pruma idéia construtiva. Nem quis saber de pegar aquela, literalmente, merda pastosa do chão, deixei ela ali pra que alguém delicie seu sapato naquilo. Oh meu Deus!

Logo que virei a esquina veio aquela negra deliciosa. Com todas as carnes no lugar e aquele rabo maravilhoso que ela abanava de lá pra cá. De cá para lá. Aquela bunda era hipnotizadora. Meu deus como ela abanava. Devia abanar mais por saber que eu estava ali. Vai e volta. O movimento era mágico. Reduzi a velocidade e deixei que ela passasse a minha frente para que pudesse examinar aquela bunda de um ângulo melhor. Era difícil fazer isso já que o cachorro, “bom” animal que era, sempre queria correr feito um louco. Sempre forçava a coleira. Dei uns tratos no animal. Uma bela repreensão não faria mal a ninguém!

Nossa! Como o dia tinha melhorado um pouco. A negra a rebolar e eu a andar atrás daquilo me deliciando. Que bundão. Ou eu ou ela! Melhor, dela! Vinha curtindo aquele rabo até virar a esquina. Foram bons momentos de felicidade! Que felicidade. No final da rua tomamos sentidos opostos. Que rabo maravilhoso. Sabia que poderia contar com essa memória o resto do dia! Aham, com certeza!

Pronto era só falar, aquele dia seria uma merda mesmo. Assim que virei na outra esquina passara por um grupo de boiolas. Não que tivesse problema com isso. Pra mim quanto mais boiola melhor, sobrava mais mulher. O único problema era que aqueles eram demais. Caralho, o que eles viram em mim? Pensei, estava todo desarrumado, com a blusa suja, com um cão babão, com a calça rasgada, puta merda, totalmente moribundo e aquelas bibas a chamar-me. Puta merda! Devem ter pensado que por estar todo sujo e desarrumado seria um verdadeiro macho! E tanto. Um verdadeiro exemplar de macho! Um macho! Sabia que havia algo de errado! Não que num fosse, né? “Amoôr”, “fiu-fiu”, “ei lindão”. Puta mera que ódio! Era puro ódio! Nessas horas tinha que ter um Rottweiler raivoso, com aquela boca cheia de dentes enormes e fortes para estraçalhá-los. Poria todas aquelas mocinhas pra correr. Correr como nunca. Como loucas!

Após alguns segundos. Tensos segundos, que mais pareceram minutos, aquela “cantoria” de bibas ensandecidas cessou. Cessou mais pela distância. Garanto que ficaram ali me chamando pra qualquer coisa que não prestasse! E por horas!

Continuei o meu caminho. Longo e penoso caminho até um bar. Ou mercado.

Aquela porra de cachorro parava a todo instante pra marcar território. Merda, me atrasando com meu encontro com a cerveja. Filho da puta!

Seguindo pela rua passo por uma casa pequena lotada de Dachshunds. Uns três. É, uns três mesmo. Dachshund é aquela raça que todos erroneamente chamam de Basset Hound. É um Basset menor. Famoso cachorro lingüiça ou salsicha. “Humm”, que fome. Cachorro quente! Cães ridículos. Só existem porque a gente criou. “Cê” acha mesmo que a natureza iria criar uma coisa estúpida daquelas? Faça-me o favor!

Aqueles merdinhas eram loucos. Não sei quem eram os mais ensandecidos. Se eram as bibas ou aquelas miniaturas. Assim que viram o meu cão começaram um espetáculo. Era impressionante como saltavam, mais ou menos, um metro ou um metro e meio ou algo assim! Caralho, era lindo. Como saltavam! Fiquei alguns minutos contemplando aquilo. Ria sem parar. Somente dois saltavam e o mais perfeito era que saltavam alternadamente, um do lado do outro. Como pingue-pongue. Dado momento um saltou e o que sobrava atrás se meteu debaixo dele. Assim que o que estava em cima desceu em cima do que estava em baixo, começou o estresse. Mordiam furiosamente. Foi maravilhoso. Mordidas de graça! Mordidas pra dar e vender!

Senti minha deixa e continuei vagando. Deixei-os ali como bons cães que eram!

Após alguns minutos de desvario achei algum lugar para comprar minha cerveja. Finalmente minha cerveja. Minha preciosa bebida, meu precioso elixir! Comprei uma caixa e abri uma ali mesmo e seguiu o caminho de volta. Penoso caminho.

Passando novamente pelas salsichas vi que não estavam mais ali. Onde se meteram? Deveria haver mais um espetáculo. Assobiei incessantemente, embora sem sucesso. Deviam ter ido dormir ou os donos os puseram pra dentro. Que coisa chata, não haveria um segundo tempo.

À minha frente havia um velho. Bem velho e com o andar lento e doentio. Coroa gente boa. Imaginei como poderia ser tão velho e não fazer nada pra ninguém. Deveria ser bom desde que houvesse mulheres, álcool, cigarros e mulheres.

No prédio ao lado um porteiro não parava de instigar o coroa. “Vasco, Vasco, Vasco!”. Ele repetia sem dó nem piedade aos ouvidos do velho. “Vasco, Vasco, VASCOOOOOOOO!” Puta merda! Cala a boca caralho! “Coe VASCAÍNO! VASCÃO!” Vasco de cu é rola! De repente, o velho se aproxima do porteiro e, lhe entrega um papel com os números do jogo do bicho e ao tempo que passo ao lado do coroa esse se dirige a mim e diz: “AI MEU SACO. TÁ DOENDO!” Puta merda, será que ficaria assim também? Deveria ser bom. Falar o que quiser sem me preocupar com a reação!

O dia continuava num tom meio merda, mas mesmo assim seguia em frente com as cervejas debaixo do braço que me animariam!

Ao cruzar a esquina, já no retorno para a casa, avisto um outro animal do lado oposto da rua. Ele entra em frenesi e atravessa a rua sem nem olhar pros lados, ensandecido e louco de raiva por algum motivo maluco. Sei lá. Sabe como esses bichos são. Basta ver um do outro lado da rua que esses troços se jogam numa caçada infernal maluca! Mas como eu ia dizendo, ele atravessa rua assim que vê o meu cachorro. Quando está próximo do meu cão, a ponto de abocanhá-lo ou algo assim, eu me ponho entre os dois e com um tom ameaçador desafio o vira-lata. Todos na rua me olham com cara de susto e outros riem da situação! Cá estou novamente no meio da rua com cara de idiota, é sempre assim, já estou acostumado! Finalmente, após algum esforço de ambas as partes, o cachorro maldito desiste! Uma gorda, muito gorda e feia, com seus saudáveis cento e poucos quilos e feições brutas, que observava a situação assim que vê tudo acabado se aproxima de mim, deposita sua mãozinha gorda sobre o meu obro e dá uma esfregadinha. É ele que te leva pra passear né, amor? Porra olha o ódio de novo. Aquele cabelo loiro pintado, ridículo, risível dela, me chamava atenção. Puta merda que situação escrota! Dou um sorrisinho e respondo um “é” curto e grosso.

Puta merda! Será que ia dar tudo certo e errado e vice-versa e não necessariamente nessa ordem? O que regia meu dia? Tinha até medo de pisar. Sei lá, vai que o chão se abre e sai um velho de bracinhos curtos, muito gordo e boiola tentando me estuprar? Com um bundão, falou!

Sigo meu caminho de volta pra casa.

Dessa vez já não havia nem velho, nem gorda, nem cães nem boiolas. Tudo voltava ao normal. Ao meu normal! Normal pruma cidade grande com um bairro grande, com algumas pessoas!

Finalmente chego à minha rua. Ah, como era bom estar quase em casa! Após alguns passos lentos minhas expectativas se confirmam! Merda, merda, merda. Era pura merda. A mesma que eu havia deixado antes. A sola do chinelo parecia um mar de bosta! Aquele troço marrom escorria pela borda do chinelo e tocava a sola do meu pé direito. Era escorregadio e não estava mais quente (pelo menos isso). O cheiro me seguia por onde quer que eu fosse. Que merda. Que linda merda. Que maldade do destino. Pisei na própria merda. Na própria merda do meu próprio cachorro!

Segui meus últimos passos tomado por uma cautela e um nojo surreais! Tinha cuidado para não espalhar merda demais pelo resto, intocado, da sola do meu pé e ao mesmo tempo cuidando pra não pisar em outra. Era como um campo minado! Me senti numa guerra. Ou eles ou eu. Ou aquelas criaturinhas marrons e cumpridinhas ou as minhas imponentes solas reduzidas somente a imponente. Desviava de forma graciosa. Me esquivava enquanto mais delas surgiam no meu caminho e o cachorro puxava. Após passar por todo aquele campo minado e seus cocozinhos cheguei em casa. Me senti no Quebra-nozes ou no Lago dos Cisnes. Tive finalmente a oportunidade de lavar meu pesinho. Tomei uma ducha e tornei a me sentir inútil no sofá. Só que dessa vez tinha cerveja. Ah sim, uma cerveja...

Lá pelas oito horas me ligam me convidando para uma festa. Uma festa na casa do Pedro, um amigo antigo que sempre me convidava prumas festas sem nexo. Mas era festa, teria muita cerveja e pessoas pra se ignorar. Topo! Sabia que não deveria mas topei. Após alguma insistência dele! Tomara que seja. Boa Pedro, ou arrancarei sua espinha das suas costas ou seu rim mesmo!

Fui à casa de João. Chegando lá, alguns amigos da faculdade dele que dizem me conhecer me cumprimentam e já chegam com perguntas estúpidas sobre qualquer assunto banal. Finjo, da forma mais sincera o possível, responder as perguntas deles. Qualquer coisa sobre Freud ou Mozart e algumas revoluções. Digo que tudo isso é besteira e que a nova ordem mundial se foca somente na individualidade do ser. Pra mim o que sempre importou foi a terra, não como espaço geográfico, mas como planeta e unidade etc.

Haviam algumas pizzas sobre a mesa. Comecei a comê-las junto com bons goles de cerveja. Das minhas cervejas. Claro. Não as deixaria em casa, dentro da geladeira escura e má! Elas que viessem comigo! Elas tinham que vir!

Nunca fui muito fã de comida salvo em grandes festas em que houvesse feijoada ou caldeirada ou cozido ou qualquer outra “ada” que existisse. Sempre tinha a mesma filosofia: “Um copo de cerveja equivale a um pão francês.” Realmente. A cevada misturada com o lúpulo deveria conter tanto amido quanto um pão, por isso essas panças de chopp e cervejas que ostentam por aí esses meus conhecidos.

Algumas horas de “diversão” depois, me senti um tanto mal e com o estômago cheio! MERDA! Malditos vinte um pedaços. Não consegui sair do lugar. A não ser para ir ao banheiro vomitar! Aqueles merdinhas com suas pizzas, sabia que não deveria ter comido aquilo. A quilo. Fui embora assim mesmo.

Aquele dia, definitivamente, não seria o meu. Por que estaria sendo “castigado” daquele jeito. Talvez Deus estivesse puto por todos esses anos de descrença e tentação do demônio. Se Ele quisesse me castigar que descesse aqui e me cobrisse de porrada. Anda, estou esperando. Acho que fiquei ali, bêbado, enjoado e ainda vomitando por uns quinze minutos. Esse puto realmente não desceria. Covarde. Ficava só lá de cima me fodendo.

Continuei caminhando até que cheguei na esquina da mina rua e resolvi parar num bar. Encontrei o J. “Animal” Lima sentado com duas gatas. Mulheres lindas e de porre. Corpos esguios e serpenteantes com seus cabelos loiros até a cintura. Pareciam gêmeas. ERAM gêmeas! Lindas gêmeas!

Me espantei. O Animal nunca fora de conseguir mulheres assim. Não era tão bonito e não tinha uma boa fama. Estavam bêbadas. Talvez fosse por isso, aquele sacana! O Animal tinha esse nome por causa to tamanho do seu pênis. Não preciso mencionar o tamanho, né? Só sei que era enorme. Diziam as más línguas que beirava os trinta. Ah, o apelido. Era o seguinte, ele tinha tara por gemidos altos. Altos. BEM ALTOS! Quanto mais ele colocava numa fêmea ela gritava só que quando ela ia acostumando ele colocava mais a fim de fazê-la gritar ainda mais e mais e mais e mais! Às vezes machucava alguém, de verdade. Chegava a sangrar e as moças tinham que ir ao hospital mais próximo e o mais rápido que pudessem para que não morressem de hemorragia. Dava pra ouvir os gritos delas do quinto andar. Ele morava no prédio ao lado no segundo andar.

Enfim, encontrei o Animal, com duas lindas gêmeas, bêbadas, na esquina da minha casa. Pronto, estava formado o “quarteto fantástico”. Lá de dentro ele me chama – EI! Sente-se conosco e tome uns goles, só alguns poucos para não elevar a conta.

Mesmo com aquela dor de estômago terrível (nunca mais como de novo) aceitei o convite. Essas aqui são Cristina e Laura, são irmãs, ele disse. Foi um prazer coletivo. Mais meu do que delas. Sentei e conversamos sobre os assuntos que elas queriam falar. Eu não estava muito a fim de falar mesmo. Deixei a tagarelice para elas.

Falaram sobre a vida, sobre a faculdade e sobre assuntos chatos, esses assuntos de mulher, sabe?

Logo após fecharmos o bar convidei-os para uma social e divertida bebedeira de vinho na minha casa. Não sei por que aceitaram, estavam mais pra lá do que pra cá, todos os três e eu nem tinha me incluído nisso. Ao chegarmos no meu humilde buraco eles se sentaram no sofá e recomeçaram os assuntos chatos. Percebi uma mão “malandra” do animal sobrevoando as coxas de Linda. Ou seriam as de Laura? Enfim, ele estava acariciando as coxas de uma delas. Que confusão. Servi os três nuns copos de geléia e ficamos ali conversando horas sobre os mais variados assuntos. Sim, os mais variados. Estávamos na minha casa e agora quem mandava era eu. Estávamos sobre os meus domínios, sobre o meu teto!

Aproveitei a deixa do animal esgueirando ainda mais a mão na direção superior das coxas da moça e fiz o mesmo na outra. Não houve resistência. Apenas me sorriu. Tirei a mão, mais para testá-la, para ver até onde iria. Continuamos conversando. A cada olhada nos olhos que ela me dava e a cada copo seco eu aproveitava para acariciar aquelas coxas. Quadris, pés, mãos, braços e tudo que tinha direito, só pra ver até onde ela iria.

Após uns quinze minutos de bolinação incessante, o Animal já estava aos beijos com a outra, ela cedeu. Já devia estar louca de tesão ou louca de raiva, visto que eu num parava. Resolveu me dar uma chance. Se jogou no meu colo, como devia fazer com seu pai e começou a me beijar. O outro casal ao ver isso resolveu aumentar o seu ritmo e ficamos os quatro ali, disputando para ver que tinha o melhor repertório ou sei lá o que.

Aos beijos resolvi levar Laura pro meu quarto a fim de deixar os sofás livres para os dois. Ou seria a Linda? Qualquer uma que se fosse estava ali no meu quarto, sozinha, desprotegida e comigo. Tratei logo de deitá-la na minha cama e retornar para os beijos, depois as carícias, depois os abraços, amassos e tudo que vem a seguir.

Nossa como ela sabia como mexer aquilo, rebolava sem parar, para cima e para baixo com toda a virtuosidade.

Pisquei o olho e quando voltei estava com ela ao meu lado, dormindo, e eram dez horas da manhã, lembro-me de olhar o relógio e serem umas seis e pouco.

O sol brilhava alto já e pela janela entravam uns raios que iam exatamente ao corpo daquela mulher, como era magnífico. Todos os seus pêlos eram loiros, lindos e finos. Que beldade! Os passarinhos cantavam, o vento soprava as borboletas voavam e a mulher no segundo andar do prédio ao lado saia gritando no carro do Animal com ele dirigindo as pressas para o hospital mais próximo.

Era tudo muito belo.

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dá um pitaco ae. e depois eu prometo q te mando ir à merda