31 de março de 2010

Minhas pavaras em versos de outro

Trecho de um livro de Fernando Pessoa

"Ela era um misto de tudo o que sempre quis: Não tão linda a ponto de me desconcertar, com um sorriso, ah! o sorriso: claramente apaixonante, som na medida certa; seu olhar poderia ser classificado como Olhar de Mangá²: duas belas jabuticabas cor de azeviche; cabelos lisos e tão escuros como a asa da graúna³ a apontarem para anatomia, calipígia; seios fartos (não sofro da obsessão ítalo-estadunidense, mas achei por bem registrar) e uma voz, bem, se Ulisses a ouvisse falar por mais que 5 minutos teria ele próprio se livrado de suas amarras e nunca mais voltaria a ver Penélope. Mesmo tudo isso não era o mais impressionante, impressiona-me até agora – e digo isso sem bem entender o porquê de dizê-lo – foi apaixonar-me perdidamente por ela em apenas uma noite. Sim, porque tudo o que disse acima são reminiscências da noite, tatuagens que eu, anestesiado, sequer percebi que tinham sido desenhadas e marcadas durante as horas em que, num instante apenas conversávamos, noutro nos desejávamos loucamente. Sábado estranho, não a amei a primeira vista, mas queria que assim tivesse sido, como miticamente teria feito o cupido, talvez eu tenha me impregnado de Bandeira e feito dela minha Teresa, mas não houve segunda ou terceira vista, apenas a memória a me perturbar, a me dizer “Você fez tudo errado, você é um mané, resigne-se, o tempo não volta!”. Não acho que a memória tenha sido dura comigo, às vezes sou nefelibata demais. Mereci o puxão de orelha.
[...]
Na segunda-feira torci para que tudo não passasse de um sonho, mas não fora, e na madrugada de terça pra quarta, embriagado, fiz questão de me reafirmar enquanto bobo. O sonho não acabou, sequer tinha começado. Mas foi eterno enquanto durou. Inesquecível. Amor com vista pro mar, daqueles que você sente vontade de não acordar, apenas amar."

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Gostou do que leu?? Não??

dá um pitaco ae. e depois eu prometo q te mando ir à merda